Eu fiz esse livro enquanto meu pai agonizava no Hospital Português. Eu ia pro hospital trocar o turno com minha mãe e voltava pra casa. No meu quarto eu escrevia O SOL PARTIDO. E cada vez que eu terminava uma parte eu ligava para Ernesto, meu grande amigo. E, após mandar o arquivo por email, ele dizia
simplesmente: “Não pare, continue...” E eu ia por hospital e voltava pra casa. Repeti esse ritual durante várias semanas e ao ligar para Ernesto ele apenas dizia: “Continue...” Ele repetia isso toda vez que lia partes desse livro. 
Meu pai morreu. Eu mandei o livro pronto para um produtor cultural amigo meu. Ele leu e disse: “João, esse livro tem potencial de ser contemplado em edital de cultura do Estado da Bahia”. Inscrevemos o livro e ganhamos. Demorou um ano para o prêmio chegar. Nesse intervalo, íamos a casa do artista Mauro Lira. Ele diagramou e bolou a capa que eu achei sensacional. Foi um período massa de minha vida. Deu tudo certo. Esse livro é o trabalho que me fez cair a ficha de que eu sou um escritor. Posso ser ruim, mas eu sou.​​​​​​​

TRECHO:
Rasgo olhou para trás, seu rosto um misto de coragem e medo, não viu que meu amigo voava para cima dele dando-lhe um grito forte, fazendo-o voar para mais longe e mais alto. Sentamos no galho e ficamos a ver Rasgo indo em direção ao sol, em direção ao sol, em direção ao sol, ao sol... Um ponto cada vez mais preto se distanciava cada vez mais, até que o ponto preto ficava mais distante a cada instante, e ele desapareceu naquela noite, na última vez que nós o vimos junto de nós.