
"Azul" é o único livro que me arrependo de ter lançado. Eu consegui uma boa história, criativa e instigante, mas fui dominado pelo entusiasmo descontrolado depois de ter O sol partido aprovado por edital. Eu deveria ter deixado o texto guardado por um bom tempo e ter voltado a ele com calma. A pressa é uma grande inimiga da arte. Atualmente, acho que estou um pouco mais consciente desse mal, mesmo assim ainda sou tomado por grandes cargas de ansiedade. Eu tinha tudo para ter escrito o meu melhor livro. Alguns amigos já me disseram para refazê-lo e publicar uma nova versão. Eu até posso ter me curado parcialmente da pressa, mesmo que ainda caia nessa armadilha, mas tenho o costume de não reescrever um livro depois de impresso. Dessa forma, entendo o Azul como mais uma etapa de um processo de aprendizagem.
Trecho:
"Lentamente duas crianças se olharam fixamente e não mais se reconheceram. Bem leve o toque que o tio de uma delas deu: “as estrelas estão mortas, vocês estão vendo apenas reflexos de suas luzes”. Aquilo causou um enorme espanto nas crianças, ambas de 12 anos, pois a brincadeira delas era deitar juntos na grama e apontar para uma estrela a espera que o outro adivinhasse qual era. O tio é professor de matemática, estressado com a vida em sala de aula, e sem motivo chegou junto dos meninos deitados e passou a informação sobre as estrelas. Tão logo ouviram a frase elucidativa, eles se levantaram da grama e correram para casa, cada um para sua, rezaram e dormiram, e nunca mais voltaram a deitar juntos com os olhos brilhantes voltados para o céu."